Por Mutualidade da Moita
Os medicamentos percorrem a corrente sanguínea até ao local onde vão atuar, produzindo o efeito terapêutico desejado num dado órgão ou tecido, até que são eliminados do organismo. O álcool é igualmente transportado pelo sangue, atuando sobre o sistema nervoso antes de ser transformado pelas enzimas do nosso organismo (metabolizado) e eliminado, principalmente através do fígado.
O álcool pode influenciar tanto a efetividade, como a segurança de alguns medicamentos:
· Altera a sua biodisponibilidade no organismo, inibindo ou potenciando o metabolismo dos medicamentos;
· Leva à produção de substâncias tóxicas;
· Amplia o efeito inibitório de alguns medicamentos.
Mas também os medicamentos podem afectar o comportamento do álcool no organismo uma vez que alteram o seu potencial de intoxicação.
Os grupos que apresentam maior predisposição para a ocorrência desta interação são:
· Idosos – são frequentemente polimedicados e apresentam as funções renal e hepática diminuídas;
· Idosos e mulheres – porque apresentam uma menor proporção de água no organismo e o álcool não se dissolve na gordura;
· Indivíduos de raça asiática - têm uma variação genética que faz com que acumulem maior quantidade de acetaldeído – substância resultante do metabolismo do álcool - o que origina sintomas como rubor facial, náuseas e vómitos.
Caminho do álcool no organismo
Após a ingestão do álcool, a sua absorção dá-se ao nível do estômago (absorção lenta) e do intestino delgado superior (absorção rápida), sendo posteriormente transportado para o fígado.
Enquanto o álcool está no estômago, parte é transformado pela enzima álcool desidrogenase.
Existem medicamentos que inibem esta enzima o que faz com que maiores quantidades de álcool atinjam a corrente sanguínea.
Após a passagem pelo estômago, o álcool segue para o fígado onde é transformado pela álcool desidrogenase e pelo citocromo P450.
De seguida entra na corrente sanguínea e é distribuído pelos vários tecidos, incluindo o sistema nervoso central (SNC), e por fim é eliminado do organismo.
Tipos de interações
· Interações Farmacocinéticas – acontecem sobretudo no fígado, onde o álcool e muitos medicamentos são metabolizados, frequentemente pelo mesmo complexo enzimático.
· Interações Farmacodinâmicas – ocorrem quando o álcool potencia o efeito dos medicamentos, particularmente ao nível do SNC.
Tipo de ingestão de álcool e suas consequências
Quando os doentes fazem uma ingestão pontual de álcool e tomam medicamentos que vão ser metabolizados pelo citocromo P450, vai ocorrer uma competição pelas mesmas enzimas.
Tal resulta numa diminuição do metabolismo dos medicamentos que conduz a um aumento dos seus níveis no organismo, com aumento do risco de sobredosagem e da ocorrência de efeitos adversos associados à toma dos medicamentos.
O oposto acontece nos doentes que fazem uma ingestão crónica de álcool e que estão a tomar medicamentos metabolizados pelo citocromo P450. Uma vez que as enzimas têm a sua actividade potenciada, o metabolismo dos medicamentos é mais extenso e prolongado, com consequente risco de diminuição do seu efeito terapêutico. Mesmo que o indivíduo pare de ingerir álcool, o citocromo P450 mantém a sua actividade potenciada e o efeito é igual ao obtido durante a ingestão crónica de álcool.
Na intoxicação pelo álcool, estando o indivíduo alcoolizado, após a ingestão de um medicamento metabolizado pelo citocromo P450, observa-se um aumento das concentrações do medicamento no organismo com risco de sobredosagem. Tal acontece uma vez que a atividade das enzimas está focada na metabolização das grandes quantidades de álcool que foram ingeridas.
Efeitos adversos no sistema nervoso central
A ingestão de álcool e a toma de alguns medicamentos resulta na aditividade de efeitos adversos a nível do SNC.
Os efeitos aditivos no SNC dependem do medicamento administrado e podem ser: sedação aumentada, concentração diminuída, alterações psicomotoras, depressão respiratória.
Álcool e medicamentos - hepatotoxicidade:
A nível do fígado temos a glutationa, um importante antioxidante, que protege as células do stress oxidativo. Acontece que, tanto a metabolização do álcool como a de alguns medicamentos, podem reduzir os níveis de glutationa no organismo, de forma que o consumo crónico de álcool e a administração simultânea de alguns medicamentos, como é o caso do paracetamol, pode resultar em hepatotoxicidade e morte celular.
Conduzir sob o efeito do álcool juntamente com a toma de medicamentos acresce o risco de ocorrência de um acidente uma vez que, quando combinados, diminuem a perceção, a concentração e a capacidade de reação.
Na dúvida, pergunte, e tome sempre a decisão segura!