Insuficiência cardíaca
Por Mutualidade da Moita
A insuficiência cardíaca corresponde a uma situação clínica na qual o coração perde a sua capacidade de bombear o sangue de modo a satisfazer as necessidades de oxigénio e de nutrientes do organismo.
A insuficiência cardíaca é uma doença que afeta cerca de 400 mil portugueses, um número que tem tendência a aumentar. Estima-se que o número de pessoas com a doença (prevalência) venha a aumentar entre 50% a 70% até 2030.
O que acontece na Insuficiência Cardíaca?
A insuficiência cardíaca corresponde a uma situação clínica na qual o coração perde a sua capacidade de bombear o sangue de modo a satisfazer as necessidades de oxigénio e de nutrientes do organismo.
O coração tem quatro cavidades através das quais bombeia o sangue. O sangue recém-oxigenado é bombeado dos pulmões para a aurícula esquerda, para o ventrículo esquerdo e para a aorta, circulando depois pelas artérias do resto do corpo. Após o oxigénio ter sido usado, o sangue retorna através das veias para a aurícula direita e para o ventrículo direito e daí para os pulmões para ser oxigenado novamente.
Quando o coração enfraquece ou quando se torna espesso e rígido, o músculo cardíaco não consegue assegurar a carga de trabalho que lhe é solicitada, surgindo a insuficiência cardíaca.
Pode resultar de diversas doenças ou pode ser um processo degenerativo associado à idade.
Qual a incidência de Insuficiência Cardíaca na população?
Trata-se de um problema comum e estima-se que, em Portugal, a insuficiência cardíaca afete cerca de 4,4% da população adulta. Para idades superiores a 80 anos, essa prevalência é de cerca de 16%.
É uma doença intimamente associada a outras altamente prevalentes como a diabetes e a obesidade e, por isso, a sua abordagem deve ocorrer num contexto de tratamento global do doente afetado.
Quais são as causas da Insuficiência Cardíaca?
Todas as doenças que atingem o coração ou a circulação sanguínea podem causar insuficiência cardíaca.
Uma das mais comuns é a doença das artérias coronárias. Estas artérias irrigam o próprio músculo cardíaco e, por isso, quando estão afetadas, esse músculo não consegue exercer a sua função de modo eficaz, podendo mesmo ocorrer um enfarte.
Outras causas são as miocardites (processos inflamatórios e/ou infeciosos do músculo cardíaco), a pericardite (inflamação da membrana que envolve o coração), a diabetes, o hipertiroidismo ou a obesidade.
As alterações das válvulas cardíacas, as arritmias e a hipertensão arterial não controlada são também causas importantes de insuficiência cardíaca.
Qualquer doença que provoque um aumento marcado do consumo de oxigénio e de nutrientes pelo organismo vai exigir um esforço adicional da função cardíaca e, se não for tratada, pode originar o desenvolvimento de insuficiência cardíaca.
Tipos de insuficiência cardíaca
Existem diversas classificações para a insuficiência cardíaca, entre as quais:
· Sistólica: O coração perde força no lado esquerdo (ventrículo esquerdo) e não consegue bombear o sangue para a circulação, fala-se em insuficiência cardíaca sistólica ou insuficiência cardíaca do lado esquerdo. Quando isso ocorre, o coração fica dilatado e fraco.
· Diastólica: O coração torna-se mais espesso e rígido e o ventrículo esquerdo não consegue encher o suficiente e o sangue não é bombeado para a circulação mesmo que a ação de bombeamento seja forte.
· Congestiva ou não congestiva
A insuficiência cardíaca congestiva é a incapacidade do músculo cardíaco para manter a circulação, levando a uma acumulação de sangue nas veias, e de líquido nos tecidos. Estes podem acumular-se nas pernas causando inchaço (edema), nos pulmões causando edema pulmonar, ou no abdómen, a chamada ascite.
· Aguda e/ou crónica:
A insuficiência cardíaca aguda descompensada constitui uma emergência médica.
Fases de insuficiência cardíaca
Existem quatro fases (classes) da insuficiência cardíaca, usadas para classificar a gravidade dos sintomas, que representam uma progressão da fraqueza do músculo cardíaco.
A New York Heart Association (NYHA) coloca as fases da insuficiência cardíaca em quatro classes:
· Fase (ou classe) I: sem limitações na atividade. Atividades normais podem ser executadas.
· Fase (ou classe) II: limitações leves e sintomas leves com a atividade; sem sintomas em repouso
· Fase (ou classe) III: limitações visíveis na atividade; apenas confortável em repouso
· Fase (ou classe) IV: sintomas ocorrem em qualquer nível de atividade e desconfortável mesmo em repouso
Possíveis complicações da insuficiência cardíaca: estas incluem fadiga e fraqueza acentuadas, incapacidade de completar as atividades da vida diária, danos nos rins e insuficiência cardíaca progressiva que podem, em última análise, exigir transplante cardíaco.
Como se manifesta a Insuficiência Cardíaca?
Muitos dos sintomas da insuficiência cardíaca não são mais do que uma tentativa do organismo compensar a crescente incapacidade do coração fazer chegar o sangue a todo o organismo.
Essa compensação passa por um aumento da força e da contração do músculo cardíaco e do próprio ritmo cardíaco, que pode gerar palpitações; ou por uma maior retenção de sal e água a nível dos rins de modo a aumentar o volume de sangue circulante, o que pode causar inchaços em vários locais do corpo, consoante a posição e a ação da gravidade (de pé, o líquido irá acumular-se nos membros inferiores; na posição deitada, a acumulação será nas costas ou no abdómen). Essa acumulação de líquidos aumenta o número de micções durante a noite.
Ocorre ainda um aumento da espessura do músculo cardíaco (hipertrofia) que visa compensar a menor capacidade contráctil desse músculo.
Embora estes mecanismos possam, numa fase inicial, compensar a perda de função do músculo cardíaco, eles tenderão a introduzir um esforço adicional e, como tal, irão contribuir para uma maior deterioração da função cardíaca. Como tal, importa que a insuficiência cardíaca seja prontamente diagnosticada e tratada, de modo a evitar o desenvolvimento destes mecanismos e de todas as suas consequências.
Na insuficiência cardíaca já instalada, um dos principais sintomas é o cansaço, que ocorre após esforços cada vez menores ou mesmo em repouso.
Pode também ocorrer perda de apetite, tosse ou aumento de volume do abdómen.
A acumulação de fluidos nos pulmões pode gerar edema pulmonar, com dificuldade respiratória e falta de ar, obrigando os doentes a dormir com a cabeceira elevada ou mesmo sentados.
Os sintomas da insuficiência cardíaca sistólica e diastólica são muito semelhantes, pelo que o seu médico pode precisar de mais exames para ter a certeza de qual o tipo de insuficiência cardíaca presente.
Como se diagnostica a Insuficiência Cardíaca?
O diagnóstico da insuficiência cardíaca é fundamentalmente clínico, sendo importante avaliar a sua gravidade e qual a causa subjacente.
Os exames habitualmente requisitados incluem uma radiografia torácica, eletrocardiograma, ecocardiograma e um estudo laboratorial para uma avaliação mais completa.
Em alguns casos, poderá ser necessário realizar um estudo angiográfico.
Como se trata a Insuficiência Cardíaca?
Como regra, a insuficiência cardíaca não pode ser revertida e o tratamento visa melhorar a qualidade de vida, a autonomia e reduzir a mortalidade associada a esta condição.
O tratamento da insuficiência cardíaca deverá incidir sobre a sua causa, sobre os fatores agravantes e sobre a doença em si mesma.
O tratamento da causa poderá ser médico ou cirúrgico, dependendo da sua natureza.
O tratamento da insuficiência cardíaca pode ser feito mediante a prescrição de:
· diuréticos, que combatem a retenção de líquidos;
· medicamentos que aumentam a força de contração do músculo cardíaco e reduzem o ritmo cardíaco, como a digoxina;
· vasodilatadores, que permitem reduzir a sobrecarga exigida ao coração. Se existir uma arritmia poderá ser necessário implantar um pacemaker.
Outro aspeto importante é o recurso a medicamentos anticoagulantes, uma vez que nestes pacientes existe uma tendência mais elevada para a formação de coágulos dentro do coração, que podem entrar em circulação causando embolias à distância.
Quando a insuficiência cardíaca é muito grave e não responde de modo adequado ao tratamento, pode ser colocada uma indicação para transplante cardíaco.
Como se controlam os fatores de risco?
O controlo dos fatores de risco da insuficiência cardíaca passa, por exemplo, pelo controlo da pressão arterial, do colesterol ou da diabetes. Uma dieta adequada é essencial, bem como praticar exercício físico ajustado às capacidades de cada paciente e não fumar. O controlo da ingestão de sal é particularmente relevante porque ele associa-se a uma maior retenção de líquidos e, como tal, a uma maior sobrecarga para o coração.
Como se previne a Insuficiência Cardíaca?
A prevenção da insuficiência cardíaca passa pela adoção de um estilo de vida saudável, no que se refere à alimentação, prática de exercício físico, controlo do peso e avaliação médica regular, evitando-se, em simultâneo, o tabaco, o abuso de álcool e de substâncias ilícitas.
A dieta mediterrânea, rica em vegetais, mostrou poder prevenir a insuficiência cardíaca entre pessoas que sofreram um ataque cardíaco.
Não fumar, não abusar do consumo de bebidas alcoólicas e ser fisicamente ativo diariamente ajuda a prevenir a insuficiência cardíaca.
É ainda importante combater o stress através de técnicas de resiliência como o yoga ou a meditação, que podem contribuir para reduzir significativamente o risco de muitas doenças cardiovasculares.
O tratamento de sinais precoces de insuficiência cardíaca e de fatores de risco, como a hipertensão arterial (pressão alta), excesso de peso ou obesidade e endurecimento das artérias (aterosclerose) são estratégias preventivas da insuficiência cardíaca.
O acompanhamento regular em consultas especializadas, o cumprimento das recomendações e da medicação e a realização periódica dos exames prescritos podem também prevenir, em muitos casos, as complicações da insuficiência cardíaca.