TRATAMENTOS
A Gota é uma doença debilitante que pode originar dor crónica, invalidez, ou insuficiência renal crónica, mas é uma doença de fácil controlo desde que se mantenham hábitos de vida saudáveis e o cumprimento da terapêutica.
O tratamento para reduzir os níveis de ácido úrico, desde que tolerado, deve ser mantido por longos períodos, de forma a reduzir os depósitos de cristais, podendo mesmo haver remissão da doença.
O tratamento é essencialmente baseado em 4 intervenções:
1. Alteração do estilo de vida
2. Tratamento farmacológico
3. Tratamento de reabilitação
4. Tratamento cirúrgico
1) Alteração do estilo de vida
A dieta deve ser equilibrada, não sendo necessário abolir nenhum alimento em especial. Os alimentos mais ricos em precursores do ácido úrico e que devem ser ingeridos com precaução são a carne de porco e de caça, vísceras de animais, charcutaria, conservas de peixe, mariscos, café, chá, chocolate e bebidas alcoólicas – sobretudo a cerveja.
Nos doentes obesos, é preferível uma dieta baixa em calorias para controlo não só da gota, mas também do excesso de peso e outras patologias metabólicas.
Consumir leite e produtos lácteos magros ajuda a reduzir o ácido úrico.
Devem evitar-se factores precipitantes das crises, nomeadamente esforços intensos, exposição ao calor, infecções, abusos alimentares e alcoólicos. Deve ser iniciado um programa de exercício físico adaptado às capacidades do doente, para controlo do peso e melhoria da mobilidade muscular e articular.
A menos que haja contra-indicação médica por outras razões, é benéfica a ingestão abundante de água (2 a 3 litros por dia).
2) Tratamento farmacológico
O tratamento das crises deve ser feito com colchicina, anti-inflamatórios e eventualmente com corticóides. Os corticóides podem ser tomados por via oral, por injecção intramuscular, ou injectados directamente na articulação envolvida.
A longo prazo, os medicamentos que são reguladores da concentração de ácido úrico são o alopurinol e os uricosúricos (probenecide e sulfinpirazona, não disponíveis em Portugal). Estão em estudo outros fármacos para o mesmo efeito, como o febuxostat, um medicamento semelhante ao alopurinol, que serve também para reduzir os níveis de ácido úrico, mas com menos efeitos adversos, mas este ainda não se encontra disponível no mercado.
A partir do momento em que o ácido úrico surge elevado nas análises clínicas é necessário que a situação seja avaliada pelo médico assistente, mas a primeira medida será iniciar hábitos de vida saudáveis, aumentar a ingestão de água e, no caso de haver excesso de peso, fazer dieta (o médico ou nutricionista poderão aconselhar nesse sentido). Provavelmente, estas medidas por si só, irão melhorar bastante os níveis de ácido úrico, sem haver a necessidade de tomar medicamentos.
O Alopurinol é um fármaco potente, que ajuda a reduzir os níveis de ácido úrico. Quando é iniciada a toma do medicamento, pode acontecer uma crise de Gota. Quando se inicia a toma de alopurinol deve-se tomar em simultâneo algum medicamento com actividade anti-inflamatória (como a colchicina, os anti-inflamatórios não esteróides ou a cortisona). Estes medicamentos diminuem bastante o risco de ter novas crises de Gota. Quando o alopurinol já está a ser tomado há bastante tempo e surge uma crise de Gota, não é necessário suspender necessariamente a toma do medicamento, mas sim de associar tratamento para a crise.
A Urato-Oxidase (Uricase) é uma enzima presente na maioria dos animais, mas não no Homem, que degrada o urato em alantoína, uma molécula mais solúvel e mais facilmente excretada na urina. A Uricase (extraída de um fungo designado Aspergillus flavus) tem sido usada em alguns países no tratamento da hiperuricemia grave e refractária, geralmente associado a doenças malignas. Por se tratar de uma enzima reconhecida pelo organismo como estranha, a uricase vai originar resposta imunológica, o que provoca a perda da sua eficácia a longo prazo, podendo mesmo desencadear reacções alérgicas.
Alguns tratamentos biotecnológicos – como o infliximab, o anakinra e o canakinumab, estão em estudo para a utilização no tratamento das crises inflamatórias.
3) Tratamento de Reabilitação
O tratamento de reabilitação é fundamental sempre que existam sequelas associadas à inflamação e destruição articular progressiva. Deve ser prescrito por um médico especializado, tendo em atenção as características próprias de cada doente.
4) Tratamento cirúrgico
O tratamento cirúrgico destina-se à correcção ou substituição de articulações lesadas pela doença. Por vezes, quando os tofos são volumosos e causam perturbação funcional ou estética, podem ser retirados por meio de cirurgia.