Por Mutualidade da Moita

A Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA) é um distúrbio cerebral presente desde o nascimento ou que se desenvolve logo após o nascimento. Manifesta-se quando o nível de atividade e/ou desatenção é tão elevado que interfere com as atividades diárias (desempenho escolar, familiar, emocional e social).

Algumas crianças têm dificuldades principalmente com a atenção prolongada, com a concentração e com a capacidade de concluir tarefas; algumas crianças são hiperativas e impulsivas e algumas têm ambos os problemas.

Os médicos usam questionários preenchidos pelos pais e professores assim como observação da criança para realizar o diagnóstico.

Medicamentos psicostimulantes ou outros tipos de medicamentos, além de ambientes estruturados, rotinas, um plano de intervenção escolar e modificação das técnicas de educação dos pais são, com frequência, necessárias.

Embora exista considerável controvérsia sobre o número de crianças afetadas, estima-se que a PHDA afete 11% das crianças em idade escolar, e ela é diagnosticada duas a nove vezes mais em meninos do que em meninas.

Muitas características da PHDA são notadas antes dos quatro e invariavelmente antes dos 12 anos de idade, mas podem não interferir significativamente no desempenho académico e social até os anos escolares intermediários.

As causas ainda são desconhecidas, contudo, vários estudos sugerem que a maioria tenha uma causa genética, o que é evidente pela frequência dos sintomas em pessoas da mesma família.

Podem considerar-se três tipos de PHDA, tendo em conta os sintomas predominantes:

* Predominantemente desatento: é difícil para a criança estar atenta aos detalhes, seguir instruções ou conversas. É facilmente distraída e esquece-se de rotinas diárias;

* Predominantemente hiperactivo e impulsivo: quando a criança é agitada e fala muito, interrompe os outros ou fala em momentos inadequados. É igualmente difícil ficar quieta por longos períodos de tempo (durante as refeições por exemplo);

* Combinado ou misto: apresenta os sintomas de ambos os tipos, ou seja, desatenção, hiperactividade e impulsividade.

O tipo desatento é mais frequente nas raparigas, mas também afecta os rapazes.

Sinais da PHDA

Nem todos os sinais precisam estar presentes para um diagnóstico de PHDA. Contudo, sinais de desatenção devem sempre estar presentes para um diagnóstico. Os sinais devem estar presentes em duas ou mais situações (em casa e na escola, por exemplo) e devem interferir no desempenho social ou académico.

Sinais de desatenção:

* Com frequência não conseguem prestar atenção a detalhes;

* Têm dificuldade para concentrar a atenção no trabalho e nas brincadeiras;

* Não parecem ouvir quando se fala com elas diretamente;

* Com frequência não seguem instruções e não concluem tarefas;

* Têm com frequência dificuldades para organizar tarefas e atividades;

* Com frequência evitam, não gostam ou relutam em se envolver em tarefas que exigem esforço mental prolongado;

* Perdem coisas com frequência;

* São facilmente distraídas por estímulos externos;

* São frequentemente esquecidas.

Sinais de hiperatividade e impulsividade:

* Com frequência remexem as mãos e os pés nervosamente;

* Com frequência abandonam seus lugares na sala de aula e outros lugares;

* Correm ou escalam coisas de maneira excessiva;

* Têm dificuldades em brincar ou realizar actividades de lazer de maneira quieta;

* Estão sempre em movimento;

* Com frequência falam excessivamente;

* Frequentemente respondem sem pensar antes de as perguntas terem sido concluídas;

* Com frequência têm dificuldades para aguardar a sua vez;

* Com frequência interrompem ou são indiscretas com outras pessoas.

Diagnóstico

O diagnóstico baseia-se na quantidade, na frequência e na gravidade dos sintomas. Os sintomas devem estar presentes pelo menos em dois ambientes separados (normalmente na escola e em casa); se ocorrerem apenas em casa ou na escola e em nenhum outro lugar, eles não se qualificam como PHDA, porque tais sintomas podem ser causados pela situação específica. Os sintomas devem também ser mais pronunciados do que seria de esperar para o nível de desenvolvimento da criança. O diagnóstico geralmente é difícil, pois depende da opinião do observador. Além disso, as crianças que são principalmente desatentas podem não ser diagnosticadas até o seu desempenho académico ser afetado de maneira adversa.

Não existem exames de laboratório para a PHDA.

Questionários sobre diferentes aspetos do comportamento podem ajudar os médicos e psicólogos a estabelecer um diagnóstico. Como os distúrbios de aprendizagem são frequentes, muitas crianças são submetidas a exames psicológicos para determinar se há PHDA e para detetar a presença de um distúrbio de aprendizagem específico, seja como causa da desatenção ou como um problema coexistente.

Existe uma preocupação crescente entre os médicos e pais de que muitas crianças podem estar a ser diagnosticadas erroneamente. Um elevado nível de atividade pode ser completamente normal e simplesmente um exagero do temperamento infantil normal.

Determinar se o nível de atividade de uma criança é anormalmente elevado não deve depender somente do nível de tolerância da pessoa que se sente perturbada. Contudo, algumas crianças são claramente mais ativas do que a média. Caso o elevado nível de atividade seja combinado com uma capacidade de concentração curta e impulsividade, ele deve ser definido como hiperatividade e ser considerado parte da PHDA.

Tratamento

* Medicamentos psicostimulantes

* Modificação do comportamento

Os medicamentos ajudam a aliviar os sintomas e facilitam a participação das crianças na escola e outras atividades. A terapia combinada é especialmente benéfica para crianças mais novas. Já nas crianças em idade pré-escolar, a terapia comportamental pode ser suficiente.

Os medicamentos psicostimulantes são o tratamento farmacológico mais eficaz.

Os efeitos secundários dos medicamentos psicostimulantes incluem:
* Distúrbios do sono (tais como insónia);
* Supressão do apetite;
* Depressão, tristeza ou ansiedade;
* Cefaleias;
* Dor de estômago;
* Hipertensão arterial.

A maioria das crianças não apresenta efeitos secundários, excepto talvez redução do apetite. Todos os efeitos secundários desaparecem quando o medicamento é interrompido. Contudo, quando tomados em altas dosagens por muito tempo, os estimulantes podem ocasionalmente retardar o crescimento das crianças. Por isso, os médicos monitorizam o peso e a altura. Caso a criança esteja a crescer lentamente ou apresente efeitos secundários significativos, é possível que o médico indique tirar “férias terapêuticas”. Durante as “férias terapêuticas”, os medicamentos estimulantes são interrompidos nos períodos em que as crianças não precisam de estar atentas ou concentradas, por exemplo, durante o fim de semana ou nas férias de verão. Contudo, algumas crianças têm muita dificuldade em desempenhar suas actividades mesmo fora da escola e talvez não consigam tolerar as “férias terapêuticas”.

A intervenção comportamental é igualmente importante:
* Criar uma rotina diária com instruções fáceis de compreender e cumprir;
* Desdobrar as tarefas;
* Limitar as escolhas de modo a reduzir os estímulos e a facilitar a concentração;
* Definir metas realistas;
* Recompensar os progressos;
* Usar a remoção de privilégios para punir os comportamentos negativos no lugar de ralhar ou bater;
* Ser paciente;
* Promover a auto-estima e manifestar carinho;
* Promover actividades extra-académicas, para ajudar a libertar tensões acumuladas.

Esta patologia interfere seriamente na vida das crianças e das suas famílias. Lidar com esta perturbação exige um verdadeiro trabalho de equipa entre os profissionais de saúde, pais e educadores.

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