O glaucoma é uma das principais causas de cegueira nos adultos no Mundo Ocidental. Estima-se que uma em cada sete pessoas cegas seja vítima de glaucoma. Quase todas essas pessoas apresentam visão normal durante uma parte das suas vidas: o glaucoma raramente se manifesta antes dos 35 anos e a perda de visão ocorre geralmente aos 40, 50 ou 60 anos, A visão destas pessoas não pode ser recuperada e, por esse facto, o diagnóstico precoce é a chave para a prevenção desta doença.

De acordo com a Direção-Geral da Saúde, em Portugal cerca de 200.000 pessoas apresentam hipertensão intraocular e destas um terço sofre de glaucoma. Cerca de 6.000 pessoas podem evoluir para cegueira irreversível e/ou degradação acentuada do campo visual.

O que é o glaucoma?

Dependendo dos tipos de glaucoma, os mecanismos são diferentes. De um modo geral, o que se passa no glaucoma é uma perturbação da dinâmica dos fluidos intraoculares que determina a sua acumulação, com consequente aumento da pressão sobre as delicadas células nervosas que são a base da nossa visão. Essa pressão, se não corrigida, determina a morte dessas células com perda gradual da visão. As razões para semelhantes factos não são completamente conhecidas, embora se pense que os problemas de drenagem sejam desencadeados pela idade e por outros fatores mal compreendidos.

Na figura seguinte está representada a estrutura através da qual ocorre a drenagem normal de líquido. Em condições normais, esse líquido, que nutre o olho, é produzido pelo corpo ciliar atrás da íris (câmara posterior) e flui pela pupila para a frente do olho (câmara anterior), onde sai pelos canais de drenagem entre a íris e a córnea (o "ângulo"). Quando funciona correctamente, o sistema é como uma torneira (corpo ciliar) e um dreno numa pia (canais de drenagem). O equilíbrio entre a produção do líquido e a drenagem - entre uma torneira aberta e uma pia com bom escoamento - mantém o líquido fluindo livremente e evita que a pressão ocular aumente.

Mais concretamente, o glaucoma ocorre quando um desequilíbrio na produção e drenagem de líquido no olho (humor aquoso) aumenta a pressão ocular a níveis prejudiciais. No glaucoma, os canais de drenagem ficam obstruídos, bloqueados ou fechados. O líquido não consegue sair do olho, mas continua a ser produzido na câmara posterior. Por outras palavras, a pia "entope", mas a torneira permanece aberta. E por não haver outro lugar para onde o líquido possa escoar, a pressão no olho aumenta. Quando a pressão aumenta mais do que o nervo óptico consegue suportar, ocorre a lesão do nervo óptico. Essa lesão é chamada de glaucoma.

Há muitas formas de glaucoma adulto e infantil. Na sua maioria existem duas categorias:
· Glaucoma de ângulo aberto
· Glaucoma de ângulo fechado

O glaucoma de ângulo aberto é mais comum do que o glaucoma de ângulo fechado. No glaucoma de ângulo aberto, os canais de drenagem dos olhos vão sendo gradualmente obstruídos por partículas minúsculas e microscópicas ao longo de meses ou anos. Esse tipo de glaucoma é "aberto" porque os canais não estão visivelmente bloqueados (ao serem examinados com uma lâmpada de fenda), mas ainda assim a drenagem através deles é insuficiente. A pressão ocular aumenta lentamente, pois o líquido é produzido normalmente, mas sua drenagem é lenta.

O glaucoma de ângulo fechado é menos comum do que o glaucoma de ângulo aberto. No glaucoma de ângulo fechado, os canais de drenagem nos olhos ficam bloqueados ou fechados porque o ângulo entre a íris e a córnea é muito estreito. Este tipo de glaucoma é "fechado" porque os canais estão visivelmente bloqueados. O bloqueio pode ocorrer de repente (glaucoma de ângulo fechado agudo) ou lentamente (glaucoma de ângulo fechado crónico). Se o bloqueio ocorre de repente, a pressão ocular aumenta rapidamente. Se o bloqueio ocorre lentamente, a pressão no olho aumenta lentamente como no glaucoma de ângulo aberto.

Para lá do efeito da pressão intraocular existem fatores de natureza vascular também associados à presença de glaucoma, por vezes mesmo com pressões intraoculares normais. Daí que seja importante uma avaliação regular, mesmo na ausência de queixas.

O que causa o glaucoma?

As pessoas com maior risco são aquelas que se encaixam num dos seguintes grupos:
· Pessoas com mais de 40 anos de idade
· Etnia africana
· Parentes de pessoas que têm (ou tiveram) a doença · Pessoas com miopia (no glaucoma de ângulo aberto) ou hipermetropia (no glaucoma de ângulo fechado) · Diabetes · Hipertensão
· Pessoas que usam corticosteroides por muito tempo
· Pessoas com histórico de lesão ou cirurgia ocular

De um modo geral, a própria idade é importante no aparecimento do glaucoma, uma vez que se trata de uma doença com um importante componente degenerativo e vascular.

É importante saber que existem formas raras de glaucoma congénito e infantil.

Como se manifesta o glaucoma?

Existem duas formas principais de glaucoma, a aguda e a crónica. A forma aguda de glaucoma manifesta-se subitamente causando visão enevoada, vermelhidão e dores intensas nos olhos e à volta deles. A forma crónica, mais comum, progride mais lentamente e não é dolorosa. As pessoas afetadas são apenas vagamente incomodadas pelos sintomas, que são transitórios, e por isso adiam a consulta ao médico oftalmologista.

Como se referiu, uma pressão intraocular acima do normal determina uma destruição das finas e delicadas fibras nervosas que formam o nervo ótico. Uma vez que é este nervo que transmite as mensagens visuais dos olhos para o cérebro, a sua saúde é essencial para uma boa visão. Sob uma pressão intraocular elevada e prolongada, o nervo ótico deteriora-se e o campo visual do doente vai-se tornando gradualmente mais reduzido.

Surpreendentemente a maioria das pessoas não se apercebe destas alterações até ao momento em que ocorre uma extensa perda da visão periférica. Se a lesão do nervo ótico não é interrompida, o glaucoma determinará uma visão em túnel e cegueira. Este processo pode ocorrer em poucos anos.

A perda de visão induzida pelo glaucoma é permanente e não pode ser recuperada pelo tratamento.

Como se diagnostica o glaucoma?

Esse diagnóstico decorre no âmbito da consulta de Oftalmologia, onde a sua visão é avaliada, a pressão intraocular medida e os seus olhos devidamente observados.

Sempre que o médico suspeitar da presença de glaucoma serão pedidos exames adicionais, que permitem confirmar o diagnóstico. Esses exames são muito simples, nada invasivos, e permitem um diagnóstico preciso e muito rápido.

É importante recordar que esta avaliação oftalmológica deve ser realizada regularmente, de modo a garantir que os seus olhos estão sempre bem. Como regra, recomenda-se uma avaliação anual.

Como se trata o glaucoma?

Para que o tratamento seja plenamente eficaz, ele deve ser iniciado antes que ocorram lesões graves do nervo ótico. É por isto que um diagnóstico precoce pelo médico oftalmologista é fundamental, porque ele pode detetar aquilo que o doente com glaucoma não pode: anomalias do nervo ótico e alterações subtis do campo visual. São esses sinais, mais do que a elevação da pressão intraocular, que indicam a presença de glaucoma.

Existem, atualmente, diversos tratamentos para o glaucoma. A maioria dos casos é tratada mediante a aplicação de um ou mais colírios que permitem controlar a pressão intraocular. Trata-se de um tratamento simples e muito eficaz desde que mantido regularmente.

Como alternativas, o tratamento laser ou a cirurgia poderão ser utilizados.

A opção pelo tratamento mais adequado deverá ser sempre decidida individualmente, com base na avaliação realizada pelo médico.

Como se previne o glaucoma?

Não existe forma de prevenir o glaucoma. O que se pode prevenir com sucesso é a sua progressão para formas graves com compromisso da visão. Para tal, é essencial que o diagnóstico e o tratamento sejam precoces.

Fontes:
- www.msdmanuals.com;
- Glaucoma Research Foundation (http://www.glaucoma.org);
- www.saudecuf.pt