O que é a Doença de Parkinson?

A Doença de Parkinson é uma doença crónica que afecta o sistema motor, ou seja, que envolve os movimentos corporais, levando a tremores, rigidez, lentificação dos movimentos corporais, instabilidade postural e alterações da marcha.

Como surge a doença?

A doença surge quando os neurónios (células nervosas) de uma determinada região cerebral, denominada substância negra, morrem, sendo que, quando surgem os primeiros sintomas, já há perda de 70 a 80% destas células. Em condições normais, estas células produzem dopamina, um neurotransmissor que ajuda a transmitir mensagens entre as diversas áreas do cérebro que controlam o movimento corporal. Assim, quando as células da substância negra morrem, os níveis de dopamina tornam-se anormalmente baixos, o que leva a dificuldades no controlo do tónus muscular e movimentos musculares, afectando, portanto, os músculos quer durante o repouso quer quando em actividade.

Em quem ocorre

A nível mundial esta doença atinge cerca de 1 a 2 pessoas em cada 1000, sendo mais frequente nos europeus e norte-americanos do que nos asiáticos ou africanos. Surge, geralmente, no final da meia idade, tendo o seu início, tipicamente, por volta dos 60 anos, contudo em cerca de 5% dos doentes a doença tem início precoce, surgindo antes dos 40 anos. Esta doença é ligeiramente mais frequente nos homens do que nas mulheres.

Como se manifesta?

A manifestação inicial da doença é, geralmente, um tremor ligeiro numa mão, braço ou perna que ocorre, normalmente, a uma frequência de três por segundo quando extremidade afectada está em repouso mas, que pode aumentar em momentos de tensão.
Tipicamente, o tremor melhora quando o paciente move voluntariamente a extremidade afectada e pode mesmo desaparecer durante o sono. À medida que a doença progride, o tremor torna-se mais difuso, acabando, eventualmente, por afectar as extremidades de ambos os lados do corpo. Para além do tremor, que classicamente caracteriza a doença, surgem ainda outros sintomas, nomeadamente rigidez das extremidades, lentificação dos movimentos corporais voluntários (bradicinésia), instabilidade postural e alterações da marcha.
Quando a bradicinésia afecta os músculos faciais, leva a que o doente se babe, perturba o normal piscar dos olhos e interfere com a mímica facial (expressões), podendo acabar por originar uma face semelhante a uma máscara, isto é, inexpressiva.
Quando atinge outros músculos, a bradicinésia pode afectar a capacidade do paciente em cuidar de si próprio, nomeadamente de se lavar e vestir ou utilizar os talheres ou, de realizar as normais tarefas domésticas, como lavar a loiça ou a roupa.

Os problemas com o equilíbrio e a instabilidade postural podem tornar muito difíceis actos tão simples quanto o sentar-se ou levantar-se de uma cadeira e o andar pode implicar pequenos passos, arrastados, geralmente, sem o normal movimento pendular dos braços. Nalguns pacientes surgem, ainda, alterações da escrita, sendo que a letra se torna pequena, tremida e, muitas vezes, ilegível.

Para além de tudo isto, ainda estão associados à Doença de Parkinson outros sintomas, incluindo:
· depressão;
· falta de cheiro;
· ansiedade;
· alterações do sono;
· perda de memória;
· discurso indistinto;
· dificuldades de mastigação e deglutição;
· obstipação;
· perda do controlo vesical;
· regulação anormal da temperatura corporal;
· aumento da sudação;
· disfunção sexual;
· cãibras, entorpecimento, formigueiros (parestesias) e dores nos músculos.

Depressão e doença de Parkinson

A primeira forma de depressão que devemos considerar na doença de Parkinson é a reactiva à sua doença. O sentimento dominante é o de revolta. O doente tem a sensação de injustiça por parte da natureza por ter sido escolhido para ter essa doença. A ansiedade domina o quadro, com irritabilidade que interfere nas relações com a família, e a insónia domina sobretudo o princípio da noite. Com o passar do tempo e com o equilíbrio dos sintomas físicos da doença através da medicação, o doente tem tendência a adaptar-se. Naturalmente, que este aspecto deve ser tomado sempre em linha de conta no momento em que o médico comunica ao doente o seu diagnóstico. Esta reacção depressiva pode estender-se ao agregado familiar pois que uma doença crónica numa família é também uma doença da estrutura social que é a família. Pode ainda acrescentar-se que a família carece, também ela, muitas vezes de apoio que o médico deve saber identificar.

Como se trata?

Apesar de não haver, actualmente, uma cura para a Doença de Parkinson, os sintomas podem ser controlados através de diversos tipos de medicações. Assim, numa primeira fase poder-se-à recorrer ao uso de amantadina (Parkadina®), a qual actua ao promover a libertação da dopamina no interior do cérebro, pelo que só actua enquanto ainda houver alguns neurónios a produzirem aquele neurotransmissor, deixando depois de actuar. Então, nesta fase subsequente da doença, tem de se recorrer a outro tipo de medicação, utilizando-se, geralmente, a levodopa, um percursor que é convertido em dopamina a nível cerebral, e que é geralmente prescrita em associação com carbidopa (Sinemet®). Para além destas existem ainda outras formas de medicação, incluindo fármacos que imitam quimicamente a acção da dopamina, como a bromocriptina (Parlodel®), o pergolide (Permax®) ou o ropinirol (Requip®) e, fármacos como o entocapone (Comtan®),que como o prório nome indica, inibem a enzima que é responsável pela degradação da dopamina e levodopa, pelo que ao inibi-la consegue-se aumentar a concentração daquelas substâncias no cérebro.

Para além de tudo isto, ainda há a considerar a selegilina (Jumex®), que se acredita poder ser útil numa fase precoce da doença, quando ainda há neurónios na substância negra a produzirem dopamina, uma vez que se pensa que este fármaco tem um efeito protector sobre aquelas células, protelando, assim, a evolução da doença e a necessidade de iniciar o tratamento com levodopa.

Por último, há que referir que medidas gerais, como a prática regular de exercício físico e uma dieta equilibrada podem contribuir para melhorar o bem estar destes pacientes e também o controlo corporal.

O que esperar?

A Doença de Parkinson é uma afecção irreversível, que se prolonga por toda a vida. No entanto, a qualidade de vida dos doentes pode ser, substancialmente melhorada com a utilização da medicação, sendo que, por exemplo, com a levodopa há uma redução dos sintomas em cerca de 75% dos pacientes. A par da medicação, há ainda a cirurgia (DBS) e multiplos medicamento que a par da fisioterapia, aliviam e melhoram a qualidade de vida dos pacientes. A partilha das queixas, nas Associações ou outras formas de convívio, pode funcionar muito bem como apoio terapêutico para os doentes e familiares para quem a doença veio alterar, a meio da vida, de forma dramática, um equilíbrio afectivo construído ao longo de alguns anos.

A qualidade de vida, em toda a sua expressão, deve ser o objectivo fundamental e a linha orientadora das medidas terapêuticas.


Fonte: Associação Portuguesa de doentes de Parkinson