Por Mutualidade da Moita

A dengue, ou febre hemorrágica de dengue, é uma doença infecto-contagiosa provocada por um flavivírus e transmite-se através da picada dos mosquitos do género Aedes, particularmente Aedes aegypti e Aedes albopictus, infetados com o vírus, não ocorrendo transmissão pessoa a pessoa.

Transmissão do vírus

Os humanos são simultaneamente o principal hospedeiro e reservatório do vírus. Depois de picar um indivíduo doente, os mosquitos ficam infectados, mas só são capazes de transmitir o vírus após um período de incubação de 8 a 12 dias, podendo depois fazê-lo durante o resto da sua vida (cerca de um mês). Os mosquitos reproduzem-se durante a estação chuvosa, mas podem reproduzir-se durante todo o ano em vasos de flores cheios de água, sacos plásticos e latas.

A transmissão do vírus também pode ocorrer através de uma transfusão de sangue, transplante de órgão ou de uma grávida infetada para o seu bebé pouco antes do parto.

As regiões endémicas de dengue são sobretudo regiões tropicais e subtropicais, nomeadamente países da América do Sul, Caraíbas e Sul e Sudeste Asiático.

Até ao momento não foram detetados mosquitos daquele género em Portugal Continental, pelo que não há risco de emergência de casos indígenas. Todos os casos até à data diagnosticados foram importados de regiões endémicas.

Sintomas

Existem 4 serotipos de vírus, sendo a imunidade serotipo-específica. A dengue tem um período de incubação de 3 a 7 dias, podendo prolongar-se até 14 dias. Os sintomas da dengue surgem entre 3 a 14 dias após a picada do mosquito infetado. A progressão da doença divide-se em três fases: febril, crítica e convalescença. A maior parte dos indivíduos infectados podem não revelar qualquer sintoma ou apenas sintomas ligeiros.

Os sintomas iniciais mais frequentes incluem:
· Febre alta (entre 38ºC e 40ºC), com dois picos ao longo do dia e que pode durar 2 e 7 dias;
· Mal-estar generalizado; <br · Falta de apetite;
· Dor de cabeça (tipicamente localizada atrás dos olhos);
· Dores musculares e nas articulações.

Em alguns casos pode existir:
· Exantema (rash) macular ou maculopapular, pruriginoso (comichão), tipicamente envolvendo o dorso das mãos e pés e que se estende ao resto do corpo (surge coma remissão da febre e pode durar várias horas ou mesmo dias);
· Náuseas e vómitos.

A maioria dos doentes recupera no período de uma semana, contudo, a infecção pode evoluir com agravamento dos sintomas e cursar com risco de vida. Nos casos mais graves, existe lesão e ruptura dos vasos sanguíneos que, associada a uma diminuição das plaquetas (essenciais à formação dos coágulos sanguíneos), leva ao aparecimento de hemorragias.

Esta forma grave e potencialmente fatal da dengue, a que chamamos febre hemorrágica de dengue, caracteriza-se por:
· Febre alta;
· Hemorragias, habitualmente na cavidade oral, no nariz ou na pele, manifestando-se sob a forma de equimoses (nódoas negras) ou petéquias (pequenas lesões arroxeadas, na pele que surgem em consequência da ruptura de vasos capilares);
· Nos casos mais graves, podem ocorrer hemorragias no tubo digestivo (habitualmente sob a forma de sangue digerido nas fezes) ou intracranianas;
· Aumento de volume do fígado;
· Dor abdominal grave;
· Hipotensão arterial.

Esta condição requer hospitalização urgente e pode conduzir à morte, por coagulação intravascular disseminada, enfarte em vários órgãos ou choque hemorrágico.

Diagnóstico

É feito com base nos sintomas e existindo uma história de viagem recente para uma zona endémica de dengue. No entanto, por muitos dos sintomas serem comuns a outras doenças, pode ser necessária a realização de alguns exames complementares.

Na maioria dos casos é autolimitada e não evolui com complicações.

Tratamento

Estabelecido o diagnóstico, os doentes devem fazer repouso e reforçar a ingestão de líquidos (não alcoólicos e sem cafeína). O tratamento sintomático é suficiente, verificando-se remissão da febre e do rash em alguns dias.

É muito importante evitar a automedicação, em particular na febre hemorrágica, uma vez que a ingestão de aspirina, ibuprofeno e outros anti-inflamatórios da mesma classe, pode tornar-se especialmente perigosa já que estes estão contra-indicados por poderem favorecer a ocorrência de hemorragias. Em alternativa, o paracetamol é um antipirético adequado e bem tolerado.

O tratamento das complicações mais graves da dengue requer hospitalização urgente para monitorização da evolução clínica e evitar agravamento do prognóstico.

Epidemias de dengue foram identificadas no Brasil desde o século XIX. Em todos os Estados do Brasil, a dengue é reconhecida como problema de Saúde Pública. Para além do Brasil, a dengue encontra-se, igualmente, difundida na maioria das regiões tropicais e subtropicais do Globo.

Prevenção e recomendações antes de viajar

Antes de viajar para qualquer região endémica de dengue, é fundamental que marque uma consulta do viajante num dos 34 Centros de Vacinação Internacional existentes em Portugal e receba conselhos sobre como se proteger para prevenir esta ou outras infecções por doenças tropicais. Se viajar para uma destas regiões:

· Aplique repelente de insectos na pele exposta;
· Use uma rede mosquiteira (idealmente impregnada com repelente) nas portas e janelas ou sobre a cama;
· Evite sair entre o pôr-do-sol e o amanhecer ou, se tiver mesmo de o fazer, vista roupa clara com mangas e calças compridas;
· Elimine todos os recipientes que possam conter água parada (ex.: pratos e vasos de plantas ou flores, garrafas, pneus ou latas), uma vez, como já foi referido, estes são o habitat ideal para a reprodução dos mosquitos.

Sinais ou sintomas após viagem

Procure cuidados médicos urgentes caso tenha regressado de uma zona endémica de dengue e apresente alguns dos seguintes sinais ou sintomas:
· Febre alta (entre 38 ºC e 40 ºC);
· Hemorragias importantes (ex.: sangue digerido nas fezes);
· Aumento do volume do fígado;
· Dor abdominal persistente;
· Hipotensão arterial;
· Diminuição súbita da temperatura corporal (com extremidades frias);
· Diminuição da quantidade de urina produzida.

A principal medida de prevenção é a proteção individual contra a picada do mosquito, uma vez que não existe vacina para esta doença.

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