Por Mutualidade da Moita
Mais de 90% dos cancros da pele têm cura. Mas esta tão elevada taxa de sucesso só se verifica quando as neoplasias são detetadas nos estadios iniciais da doença.
O que é?
Em situações normais, as células das várias camadas da pele crescem, multiplicam-se e morrem, num processo de renovação permanente. O cancro da pele resulta de uma perturbação do normal ciclo da vida celular.
A radiação ultravioleta da luz solar (UV), pode estimular o crescimento exagerado das células da epiderme (hiperplasia) e originar mutações no ADN que levam ao aparecimento de células anormais. Estas células, ao multiplicar-se, originam um clone celular atípico (displasia).
Se o processo não for travado, essas células atípicas irão continuar a proliferar de forma descontrolada, acabando por dar origem a uma lesão maligna localizada que, gradualmente, vai aumentando de volume e origina um tumor (neoplasia).
Tipos de cancro da pele
Os tipos de cancro da pele mais frequentes, que correspondem a 97% de todos os casos, são:
* Carcinoma baso-celular ou basalioma (65%)
É mais frequente nas áreas que apanham mais sol, nomeadamente no rosto. Caracteriza-se por um crescimento lento e só em casos muito raros metastiza para outras partes do corpo, mas pode recidivar e ser muito invasivo e destrutivo, se não for tratado atempadamente.
* Carcinoma espino-celular ou pavimento-celular (25 %)
Por vezes também designado como carcinoma das células escamosas”. Pode surgir em áreas menos expostas. É um tipo de carcinoma mais agressivo que o anterior e pode, em fases mais avançadas, metastizar para os gânglios linfáticos e atingir outros órgãos.
* Melanoma e melanoma maligno (7a 8 %)
A neoplasia tem origem nos melanócitos, as células da pele responsáveis pela produção do pigmento cutâneo denominado melanina. Este tipo de cancro está associado à exposição solar aguda e intermitente e a antecedentes de queimaduras solares na infância, bem como a fatores genéticos. O melanoma é a forma mais maligna de cancro da pele, com tendência para metastizar precocemente, se não for detetado e tratado corretamente nos estádios iniciais.
Não negligencie os sintomas.
Sinais de alerta
Os principais fatores de risco do cancro da pele podem ser divididos em dois grupos, considerando a sua origem.
* Fatores de risco de natureza individual, relacionados com o tipo de pele do indivíduo ou o seu historial clínico:
– Pele clara e fototipos baixos (1 e 2);
– Tendência para formar sardas (efélides);
– Dificuldade da pessoa em bronzear-se;
– Presença de numerosos sinais pigmentados (nevos melanocíticos);
– Imunossupressão crónica (sistema imunológico deficiente, como no caso dos doentes submetidos a transplante).
* Fatores de risco de natureza comportamental:
– Exposição solar crónica;
– Exposição solar aguda e intermitente, nomeadamente história de queimaduras solares na infância e adolescência;
– Ausência de cuidados de fotoproteção durante períodos prolongados;
– Frequência de solários.
Incidência da doença
As estatísticas distinguem os vários tipos de cancro da pele.
Portugal apresenta uma taxa de incidência de carcinoma baso-celular ou basalioma semelhante aos restantes países da bacia mediterrânica, com 67 novos diagnósticos por cada 100 mil habitantes registados a cada ano.
No caso do carcinoma espino-celular, essa incidência baixa para 17.
No que se refere ao melanoma maligno, verificam-se em cada ano cerca de oito a dez novos casos por cada 100 mil habitantes.
Diagnóstico
A identificação do cancro da pele implica um diagnóstico clínico, mas que deve ser, sempre que possível, confirmado pelo exame histopatológico dos tecidos tumorais. O estudo da lesão é feito ao microscópio com o material recolhido por biópsia (biópsia diagnóstica) ou pela análise da peça operatória obtida por excisão cirúrgica (biópsia excisional).
Tratamento
O tratamento de primeira linha do cancro da pele é, sempre que possível, a excisão cirúrgica total do tumor. Todavia, em doentes idosos, com risco operatório, ou com tumores múltiplos, as alternativas são:
* Curetagem e eletrocoagulação.
Raspagem do tumor e destruição dos tecidos afetados através da utilização de correntes de alta frequência;
* Criocirurgia com azoto líquido.
Aplicação dirigida de frio intenso para eliminação do tumor pela baixa temperatura (- 50º a -196º C);
* Radioterapia.
Utilização de radiações ionizantes para destruir a lesão (opção recomendada para casos de tumores avançados).
Além destas opções, os médicos poderão optar ainda por:
* Cirurgia micrográfica de Mohs.
Um tipo de operação que implica a extração de várias camadas do tumor até a análise microscópica feita no momento poder confirmar não existir mais tecido tumoral no local —, indicada nos tumores invasivos, de limites mal definidos ou nos tumores recidivantes.
* Terapêutica fotodinâmica.
Consiste na aplicação de um agente fotossensibilizante (derivado das porfirinas) e exposição a uma fonte de luz, na presença de oxigénio molecular, para eliminar seletivamente as células neoplásicas. É o método de eleição para formas de tumores superficiais (basalioma superficial não pigmentado e carcinomas in situ, ou doença de Bowen), com excelentes resultados cosméticos.
Relógio solar
Para saber sempre quais as horas mais seguras para a exposição solar, consulte o relógio solar:
* Saiba que se expõe aos raios ultra-violeta (UV) não só quando apanha sol na praia, mas também praticando um desporto ao ar livre, fazendo jardinagem ou simplesmente caminhando ao sol
* A exposição solar deve ser cuidadosa, evitando as horas de maior intensidade
* Reduza ao máximo as suas actividades exteriores entre as 12h e as 16h (antes e depois do "meio dia solar")
* Use um chapéu, uma camisa ou t-shirt de cor escura e óculos quando estiver ao sol. Se estiver muito tempo exposto ao sol, por razões profissionais ou lúdicas, utilize manga comprida que cubra os antebraços. Exponha-se gradualmente ao sol, pois a pele necessita de tempo para se adaptar
* Uma t-shirt molhada no corpo pode deixar passar os raios ultra-violeta
* 30 minutos antes de ir para a praia ou piscina aplique um creme protector com um factor de protecção igual ou superior a 30. Renove as aplicações de 2 em 2 horas e após o banho, mesmo que o protector seja à prova de água
* Conheça a sua pele, efectue um auto-exame da pele de 2 em 2 meses. Vigie o contorno, a cor e o tamanho dos seus nevos
* Tenha em atenção o reflexo dos raios solares na neve (85%), na praia (20%), na água e na relva (5%). Estar à sombra de uma chapéu de sol ou toldo não é suficiente para evitar os escaldões
* Com templo nublado não se esqueça do protector solar, uma vez que os raios são quase tão perigosos como com sol
* Mantenha os bebés longe do sol e ensine a protecção solar às crianças desde muito cedo. No 1º ano de idade, as crianças não devem ser expostas directamente ao sol. Uma queimadura solar na infância duplica o risco de mais tarde se desenvolver um cancro de pele
* Evite salas de bronzeamento, ou solários, pois os UV aumentam o risco de cancro cutâneo e aceleram o envelhecimento da pele
* Evite queimaduras solares e escaldões
* As pessoas ruivas, as loiras, com sardas e muitos sinais, devem proteger-se com maior rigor
* Programe as actividades, ao ar livre para a manhã ou fim da tarde
* É necessário utilizar óculos de protecção, particularmente as crianças e pessoas de olhos claros
* Consumir frutas, legumes e beber muita água é importante para a protecção da pele e equilíbrio orgânico
* Sinal que modifica, ferida que não cicatriza, é tempo de ser vista
* Estima-se que cerca de 80% da dose de radiação tolerada pela pele se atinge pelos 18 anos
* Proteja a sua pele, os lábios e os olhos do excesso de sol.
Fontes:
- Associação Portuguesa de cancro cutâneo;
- Artigo do Dr. João Abel Amaro, coordenador da Unidade de Dermatologia do Hospital Lusíadas Lisboa