Maio, mês do coração 2018 Em 2018, a Fundação Portuguesa de Cardiologia dedica o “Maio, Mês do Coração” ao “Colesterol, Dislipidemias e Aterosclerose“.
Dislipidemia é um termo usado para designar todas as anomalias quantitativas ou qualitativas dos lípidos (gorduras) no sangue.

As dislipidemias podem ser de vários tipos:
* podem -se manifestar por um aumento dos triglicéridos (TG’s);
* por um aumento do colesterol ;
* por uma combinação dos dois factores anteriores (a dislipidemia mista);
* e ainda por uma redução dos níveis de HDL (o chamado “bom” colesterol).

A dislipidemia é um dos mais importantes factores de risco da aterosclerose, a principal causa de morte dos países desenvolvidos, incluindo Portugal. Qualquer tipo de dislipidemia representa, pois, um importante factor de risco cardiovascular, uma vez que a gordura acumulada nas paredes das artérias pode levar à obstrução parcial ou total do fluxo sanguíneo que chega ao coração e ao cérebro.

Tratamento

O tratamento das dislipidemias passa por uma mudança de estilo de vida, ao nível da alimentação e do exercício.
São estas as principais recomendações:
* Reduza a ingestão de alimentos de origem animal (carnes vermelhas, manteiga, queijos gordos).
* Evite produtos de charcutaria e alimentos pré-cozinhados.
* Dê preferência a produtos frescos.
* Prefira a ingestão de proteínas animais ligadas ao peixe, carne de aves sem pele e carnes magras.
* Dê preferência ao azeite e outras gorduras polinsaturadas.
* Ingira mais alimentos ricos em ómega 3 (ex. sardinhas, salmão, óleo de soja).
* Ingira mais cereais integrais, vegetais, fruta e fibras solúveis (que facilitam a eliminação do colesterol).
* Cozinhe ao vapor ou grelhe os alimentos. Evite os fritos.
* Prefira molhos à base de iogurte. Evite natas e maioneses.
* Reserve o consumo de chocolate para dias de festa.
* Limite o consumo de gemas de ovo
* Pratique uma actividade física regular
* Abandone hábitos tabágicos (caso existam).

Para melhor compreender este tema é importante conhecer algumas definições:

Colesterol
Substância natural, produzida em grande parte pelo fígado e presente em todas as células do corpo. Em quantidades normais é fundamental ao metabolismo: participa nos sais biliares (importantes para a digestão das gorduras), na constituição das hormonas sexuais e é essencial para a constituição das membranas das células. No entanto, quando em excesso, conduz a problemas como a aterosclerose.

Colesterol LDL
– LDL significa em inglês, lipoproteína de baixa densidade. Esta sigla representa aquele que é também conhecido por mau colesterol, pois oxida e deposita-se nas paredes das artérias, originando o seu endurecimento e obstrução.

Colesterol HDL
– HDL significa em inglês, lipoproteína de alta densidade. Esta sigla representa o “bom” colesterol, responsável pela remoção do “mau” colesterol do sangue e das paredes das artérias.

Triglicéridos
São componentes de grande parte das gorduras alimentares (animais e vegetais). Quando em excesso no sangue também estão associados a um maior risco cardiovascular.

Causas
* Factores genéticos
* Alimentação rica em gorduras e pobre em fibras e vegetais
* Obesidade
* Sedentarismo
* Insulinoresistência (doentes obesos e diabéticos)
* Hipotiroidismo (problemas endocrinológicos)

Valores recomendados
Colesterol Total ‹ 190 mg/dl
Colesterol LDL ‹ 115 mg/dl
Colesterol HDL › 40 mg/dl no homem › 45 mg/dl na mulher
Triglicéridos ‹ 150 mg/dl

Aterosclerose

O aparecimento e o desenvolvimento da aterosclerose é, tradicionalmente, olhada como uma doença em que as gorduras da circulação (o colesterol) se depositam, ao longo de anos e décadas, na parede das artérias e que acabam por formar um obstáculo, maior ou menor, ao fluxo de sangue numa determinada artéria, num determinado órgão (coração, cérebro, rim ou membros inferiores). No entanto, a lesão de aterosclerose nas artérias, não é uma simples obstrução, mas é um processo inflamatório.

Quais as causas da aterosclerose?

Os factores que aumentam o risco de desenvolvimento de aterosclerose incluem níveis elevados de colesterol no sangue, níveis baixos de colesterol HDL (o “colesterol bom”), níveis elevados de proteína C reactiva (um marcador de inflamação), hipertensão arterial, Diabetes, história familiar de doença coronária numa idade precoce, tabagismo, obesidade, inactividade física e idade avançada.

Como se manifesta a aterosclerose?

A aterosclerose geralmente não causa quaisquer sintomas até o fornecimento de sangue para um órgão ser reduzido. Quando isto acontece, as manifestações variam, dependendo do órgão específico envolvido. De facto, os sintomas da aterosclerose são muito variáveis. As diferentes manifestações clínicas da aterosclerose resultam de um processo clínico generalizado que pode envolver diferentes territórios vasculares: cerebral, coronário e artérias periféricas. Por esse facto, as manifestações clínicas variam de acordo com o território vascular arterial envolvido.

A doença cerebrovascular pode manifestar-se como um acidente isquémico transitório, se ocorrer regressão total dos sintomas e sinais neurológicos em menos de 24 horas, ou acidente vascular cerebral.

A doença vascular coronária pode manifestar-se de diversas formas, como um síndrome coronário agudo, angina de peito estável ou instável, enfarte agudo do miocárdio.

A doença arterial periférica produz diversos sintomas que vão da claudicação intermitente até à dor em repouso. Se o estreitamento for grave, pode existir dor em repouso, os dedos e os pés podem ficar frios, pálidos ou azulados e pode ocorrer perda dos pelos das pernas.

A rotura de uma placa aterosclerótica instável, com exposição do seu conteúdo pode levar a trombose com obstrução total da artéria envolvida. Daí pode resultar um quadro de angina instável, enfarte agudo do miocárdio, acidente isquémico transitório ou acidente vascular cerebral.

Outras manifestações clínicas da doença aterosclerótica incluem a disfunção eréctil, o desenvolvimento de aneurismas e a insuficiência renal crónica.

Se a aterosclerose afecta a circulação no território abdominal, pode surgir uma dor surda ou tipo cãibra no meio do abdómen, começando geralmente 15 a 30 minutos depois de uma refeição. O bloqueio completo de uma artéria intestinal causa uma dor abdominal intensa, por vezes acompanhada de vómitos, diarreia ou aumento do volume abdominal.

Como se trata a aterosclerose?

Não existe cura para a aterosclerose, mas o tratamento pode diminuir a velocidade de progressão ou mesmo interromper o agravamento da doença. O objectivo principal do tratamento consiste em prevenir um estreitamento significativo das artérias para que os sintomas nunca venham a desenvolver-se e os órgãos vitais nunca sejam lesados. Para o conseguir deve começar por seguir um estilo de vida saudável.

É importante diagnosticar e tratar todos os factores de risco para o desenvolvimento de aterosclerose, como o colesterol e a hipertensão arterial.

Assim, qualquer tentativa terapêutica que corrija a “doença local” tem de ser complementado por uma modificação dos estilos de vida e pela correção dos fatores de risco cardiovascular. Só assim é conseguida a estabilização da doença aterosclerótica com o controlo da perigosidade da doença.

Está largamente reconhecido que a doença aterosclerótica tem uma origem multifatorial, em que as “gorduras” do sangue, têm um papel fundamental. No entanto, frequentemente, no mesmo indivíduo – homem ou mulher – coexistem 2 ou mais fatores de risco cardiovascular que, atuando sinergicamente, aumentam, a probabilidade de ocorrência de um evento cardiovascular. Hoje, existem tabelas e formas de contabilizar o risco cardiovascular individual, face à presença de alterações, da pressão arterial, do colesterol sanguíneo ou dos nossos hábitos, tendo em conta a nossa idade e o nosso sexo.

Estas tabelas ajudam o médico a identificar o risco cardiovascular global (possivelmente merecedor de intervenção terapêutica) e a motivar os doentes numa estratégia de execução das medidas modificadoras de estilos de vida e farmacológicas.

Deste modo, a palavra de ordem é Prevenção! Nunca é tarde para passar a adoptar um estilo de vida saudável!

Fontes: Fundação Portuguesa de Cardiologia; Saúde CUF